Memória Cinematográfica

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O Sonho de Cassandra

Estreia Woody Allen 1 maio 2008

Woody Allen, diretor que ficou conhecido por retratar Nova York com enredo geralmente cômico ou com pitadas de humor ácido, lança seu terceiro filme longe da metrópole norte-americana. Depois de “Ponto Final – Match Point”, de 2006, e “Scoop – O Grande Furo”, de 2007, estreou na quarta-feira, dia 30 de abril, o terceiro: “O Sonho de Cassandra” (“Cassandra’s Dream”). A produção levou cerca de seis meses para chegar ao Brasil, já que foi lançado na Europa em novembro do ano passado. As primeiras projeções, porém, foram feitas no Velho Mundo durante o Festival de Veneza, que aconteceu em julho de 2007.

Após a exibição de “Ponto Final – Match Point”, no Festival de Cannes, em 2005, Allen explicou, com toda honestidade, que não encontra mais financiadores para seus filmes nos Estados Unidos, já que não rendem muito dinheiro no seu país. Segundo ele, “os estúdios atualmente não se preocupam com filmes bons – se conseguem um filme bom, ficam duplamente felizes, mas a bilheteria e o dinheiro são seus objetivos”.

O principal problema do financiamento é porque Woody Allen não cede às pressões dos estúdios, que querem interferir na produção para render mais. Então, como forma de não abrir mão de seu jeito de filmar, de escrever aquilo o que vai para a tela e ser a última palavra em tudo (desde a escolha do figurino até a contratação do ator, passando pela seleção das locações etc.), Woody Allen preferiu trocar de país e buscar outros financiadores para não ter de mudar a sua estética.

“O Sonho de Cassandra” conta a história de dois irmãos, vividos por Ewan McGregor e Colin Farrell, que precisam consertar os percalços de suas vidas. O primeiro é ambicioso, ajuda o pai no restaurante, quer abrir um hotel na Califórnia e é apaixonado pela atriz de teatro (a estreante Hayley Atwell), enquanto Farrell faz um rapaz casado, que adora torrar tudo o que tem em apostas (de pôquer a corrida de cães), e não vive sem whisky, cigarros e pílulas para dormir.

Cassandra não é uma mulher, é o barco que os dois compram, na primeira seqüência do filme, para velejar no mar da Inglaterra. Embora o enredo se passe em Londres, a única referência visual à cidade é a Tower Bridge, um dos cartões-postais da capital inglesa. O restante das cenas se passa dentro de casa (característica de Allen), nas ruas ao redor, no mar (na cidade de Brighton). Poderia ser em qualquer outro lugar do planeta, mas a atmosfera londrina está sempre lá.

No entanto, é o drama e o suspense em nome da ascensão social (leia-se dinheiro) que move a trama, pois eles convencem seu tio Howard (Tom Wilkinson) a lhes ajudar, mas existem condições preestabelecidas por ele.

Allen, mais uma vez, consegue extrair dos atores interpretações singulares (Colin Farrell é muito convincente como um dependente), e suas lentes mostram o ambiente e a densidade necessários (assim como a trilha sonora original assinada por Philip Glass, o mesmo de “Notas sobre um Escândalo”) que convencem o espectador. Destaque para os diálogos bem-construídos, nos quais o diretor, também autor do roteiro, insere críticas pessoais, como quando fala de Hollywood.

Ao jornalista Eric Lax, autor do livro “Conversations with Woody Allen: his films, the movies, and moviemaking” (Nova York, Knopf, 2007), o diretor disse: “Sinto que posso fazer filmes dramáticos agora [depois de “Ponto Final – Match Point”] com a mesma confiança que eu tenho quando fazia comédias. Sinto que as pessoas aceitarão. Digo isso porque “Ponto Final – Match Point” fez mais dinheiro que qualquer outro filme que fiz em toda minha vida.” Mais uma vez, depois de “Crimes e Pecados” e “Ponto Final – Match Point”, Woody Allen também pode ser considerado um cineasta dramático e não apenas de piadas nova-iorquinas.

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