Memória Cinematográfica

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Baarìa – A Porta do Vento

Curto circuito Estreia Europeu 17 setembro 2010

“Cinema Paradiso”, longa-metragem do italiano Giuseppe Tornatore de 1988, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é um clássico que emociona até hoje. O filme, aliás, ganhou versão estendida em DVD, com 40 minutos a mais. Desta vez, o cineasta novamente se une ao compositor Ennio Morricone para contar a história da Itália em “Baarìa – A Porta do Vento” (“Baarìa”).

Em 150 minutos (que passam sem que o espectador tenha tempo de se entediar), as imagens revelam a história de três gerações da família: o pai Ciccio (Gaetano Aronica), o filho Peppino (Francesco Scianna) e seu neto Pietro (Giuseppe Garufì), que vivem em Bagheria, uma pequena cidade no sul da Itália.

Em um arco de 1930 e 1980, mais ou me­nos, Tornatore remonta a história do seu país (e ao mesmo tempo um quê de autobiográfico), que passou pela Segunda Guerra Mundial e convocou soldados para lutar no fronte, além do pe­ríodo fascis­ta e a pai­xão de Peppi­no pela política, uma vez que se tornou comunista e tinha de se virar para conseguir esconder os livros de Carl Marx que eram alvo dos censores.

Embora em 2006, no filme “A Desconhecida“, ele tenha falado de família de maneira “torta”, no filme que estreia nesta sexta-feira, 17, assim como em “Cinema Paradiso”, Tornatore foca na família perfeita, envolve as crianças, aqui representadas por Pietro (e Totó, no filme anterior), que amava o cinema.

Novamente, há muitas cenas em que aparecem o cinema e como eram as projeções no início do século 20, quando o cinema era mudo e as narrações e a música, ao vivo. Em uma das passagens, homenagem ao ator italiano Rodolfo Valentino, que fez muito sucesso quando se mudou para os Estados Unidos, nos anos 1920.

A história da Itália também está impressa na sobrevivência e o que as pessoas precisavam fazer para comer: a coleita das azeitonas, a ordenha do leite que era vendido de porta em porta e fresquinho.

Além de momentos tristes, como a fome, a miséria, a guerra, a fita traz momentos engraçados, que retratam como os italianos são atrapalhados. O romance também está lá, na história de amor de Peppino e Mannina (a modelo Margareth Made), uma vez que tiveram de se esconder para ficarem juntos, já que os pais dela eram contra o casamento dos dois. A crítica maior de todas é política, principalmente quando fala de corrupção.

“Baarìa – A Porta do Vento” traz um retrato também da história do próprio cineasta, pois foi em Bagheria que Tornatore nasceu e viveu até os 28 anos. Ele, aliás, afirma, no material divulgado para a imprensa, que o nome da cidade pode se derivar de Bab el gherid, que, em árabe, significa “A Porta do Vento”, mas que todos a chamam simplesmente de Baarìa (daí o nome do filme).

Para reconstruir a tal cidade, localizada no sul da Itália, as locações escolhidas ficam na Tunísia (para ficar mais barato) e os sets de filmagem demoraram um ano para serem construídos.

A licença poética do voo do menino no início do filme, a corrida para comprar o cigarro que lhe pedem, e a mistura das gerações fazem de “Baarìa” um filme sensível, que une o talento de Tornatore em contar boas histórias, com a trilha sonora de Morricone, que faz a sincronia perfeita entre som e imagem!

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