Memória Cinematográfica

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Meu País

Entrevista Estreia Nacional 10 outubro 2011

Com filmagens no Brasil e na Itália, “Meu País”, longa-metragem de ficção de estreia de André Ristum, conta a história de uma família que, após a morte do patriarca (Paulo José), os dois irmãos, Marcos (Rodrigo Santoro), que vive com a esposa (Anita Caprioli) na Itália, e Tiago (Cauã Reymond), que vive em São Paulo para cuidar dos negócios da família, precisam decidir os rumos das empresas.

Os dois precisam resolver também outra pendenga: o destino a meia-irmã, Manuela (Debora Falabella), fruto de um caso extraconjugal do pai, que tem problemas mentais e está internada em uma clínica no interior do estado.

Em entrevista coletiva à imprensa, Ristum explica que as filmagens foram feitas na capital paulista, além dos arredores de Paulínia e Indaiatuba, em um casarão, onde foram feitas as cenas internas. “As filmagens na Itália, cenas do início do filme, foram rodadas por último, em Roma.”

Durante as filmagens, os dois atores conviviam como uma família, como irmão mais velho e mais novo, de modo que quando a meia-irmã chegou em cena, era como uma estranha, combinando justamente com o tema da fita.

Depois de sucesso no Brasil e no exterior, interpretando personagens que falam inglês e espanhol, Rodrigo Santoro afirma que falar italiano foi mais um desafio de sua carreira, além de a personagem remetê-lo às raízes de suas família.

“Sou filho de italiano na vida real. Meu pai veio cedo da Itália, não cresci falando italiano, mas sempre tive vontade de falar. E a única referência que tinha era os meus avós discutindo em italiano para a gente não entender (risos). Fiz aulas intensivas com professores no Rio e em São Paulo, e tive ajuda do André, que é ‘mezzo’ italiano, ‘mezzo’ brasileiro, além da atriz Anita, que é italiana. Então, eu estava bem cercado.”

Outra questão é que Rodrio Santoro não precisou aprender a falar italiano, mas precisou trabalhar basicamente as falas do filme. “Foi um mergulho maravilhoso em vários sentidos e em minhas próprias raízes”, diz Rodrigo, lembrando que nunca é confortável interpretar em outra língua.

“Nem em português é confortável (risos). Acho um aspecto positivo, pois quando a gente acha que o jogo está ganho, a gente perde. Foi um trabalho constante, um desafio e sempre ficava muito atento”, completa. “Mas é bom, agora eu assisto e tenho certeza que meu avô vai chorar de rir! (risos)”, completa, cheio de humor.

André Ristum conta que a história que escreveu (ao lado dos roteiristas Marco Dutra e Octavio Scopelliti) foi inspirada em sua própria vida, já que nasceu e cresceu na Itália.

“É sobre o cidadão que mora fora, distante de suas raízes, de seu país. É uma questão que sempre foi muito presente pra mim. Até uma fase da minha vida, esta era uma questão que eu me colocava. Para quem nasceu, cresceu e mora em um único país, talvez seja difícil de entender, mas quem mora lá e cá e é estrangeiro em qualquer um dos países, é uma sensação forte não saber de onde você pertence. Fui nos últimos 15 anos evoluindo e hoje sou completamente enraizado no Brasil. Essa é uma questão resolvida na minha vida atualmente. A história do Marcos é diferente da minha, mas teve esse ponto de partida para inspiração.”

Rodrigo Santoro conta que, como o filme está sendo lançado, espera que seja bastante visto, mas foi muito importante participar. “O convite veio do Fabiano (Gullane, produtor), parceiro antigo, pois fizemos ‘Bicho de Sete Cabeças’ e ‘Carandiru’, que me ligou para mandar o roteiro e eu falei que estava saindo de férias. Mesmo assim, ele falou que mandaria para eu ler. Li à noite, porque é um termômetro ler antes de dormir. E li de uma vez”, diz.

Uma semana depois, continuava pensando na história. “Passou uma semana e eu pensando nas férias, no surfe, mas tudo ficava brigando com a história. Pensei bastante e algumas coisas me pegaram (positivamente), como falar de família, de afeto, já que a gente está cada vez mais voltado para si mesmo, difícil de se relacionar, coisas fundamentais na vida do ser humano e adiei as férias para fazer o filme. Experiência incrível de trabalhar com o elenco, o italiano etc.”

Para o diretor, tratava-se de um roteiro de personagens, atores, não havia tiros, capotamentos. “Para mim, era fundamental contar com atores talentosos que pudessem acrescentar no processo. A busca foi essa e não de escolher atores globais, mas de trazer atores que eu visualiza e que admirava o trabalho. E tive muita felicidade em ver que todas as minhas primeiras escolhas deram certo.”

Ao contracenar com a atriz italiana, Rodrigo diz que ela foi muito parceira e paciente. “Eu pedi para ela me corrigir, porque eu me confundia muito, já que estudei espanhol e, toda vez que tentava me expressar em italiano, cometia algum tipo de erro. Sou muito cara de pau, quando não sei, invento a palavra. Em inglês cansei de fazer isso, colocava o “ation” no final. Eu jogo, se colar, colou! (risos)”, completa Rodrigo Santoro.

Crítica

Após a morte do pai (em uma brilhante cena protagonizada por Paulo José), os dois irmãos, vividos por Cauã Reymond (Tiago) e Rodrigo Santoro (Marcos), vão ter de decidir o rumo não apenas dos negócios da família (que beira o caos, a contar da dívida do caçula, que é viciado em jogo), mas também da irmã que acabaram de descobrir a existência. Isso porque ela é fruto de um caso extraconjugal do pai e a moça sofre de problemas mentais e está internada em uma clínica no interior de São Paulo.

A questão principal é que o médico da tal clínica informa à família que ela precisa sair de lá, pois o tratamento já foi realizado e tudo o que ela precisa é de afeto e de um lar.

A partir de então, o longa-metragem de André Restum, em sua estreia no cinema de ficção, vai contar essa história e como os irmãos vão lidar com a perda do pai e o rumo da irmã doente, que precisa de cuidados especiais.

Com cenas filmadas em São Paulo, como a movimentada avenida Paulista, além da balada que um dos irmãos frequenta em noitadas regada a uísque e jogo (além de dinheiro, é claro), há as misturas de cenas na Itália, quando Marcos ainda não chegou ao Brasil, a São Paulo, via Marginal do Rio Tietê. E, no final, praia da Jureia, litoral norte, com cena filmada às 6h, de uma segunda-feira.

A decoração da casa e do quarto de Marcos remete aos anos 1980, com fotos de crianças nas paredes, Cubo Mágico, Aquaplay, cadernos de escola, carrinhos  e até um capacete de Ayrton Senna…

“Meu País” é um filme denso e conta com boas interpretações, embora existam observações caricatas, como o irmão certinho e o outro, tresloucado, e que não vão se entender para dar o rumo que a empresa e a família precisam. Outra questão do roteiro é que o espectador pouco sabe da vida dos personagens, mas, segundo o diretor, a escolha foi proposital. Existiu a intenção de mostrar o momento na vida daquela família, que possui laços interrompidos, até o seu reencontro.

A direção intimista de André Restum dá o toque final, ainda que ele tenha pintado um país de poucos contrastes, o que não reflete a realidade brasileira, tampouco a paulistana. De qualquer modo, “Meu País” é daqueles filmes nacionais que não vão estourar na bilheteria, tal como “Tropa de Elite” ou até mesmo a comédia “Se Eu Fosse Você”, que também contam com o “star system” (estrelas do cinema), já que são atores bastante conhecidos do público por terem atuado em novelas.

No entanto, ainda assim, em um pequeno circuito no qual ele estará em cartaz a partir de sexta-feira, dia 7 de outubro, a fita merece o prestígio, ainda que seja para tentar entender e trazer de volta o afeto que a família deixou de lado, haja vista a necessidade de tecnologia que existe hoje em dia.

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