Memória Cinematográfica

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Depois de Lúcia

drama Estreia 26 março 2013

Adolescentes não são fáceis de serem educados. Isso é fato. Principalmente quando estão com outras pessoas da mesma idade, e querem competir para mostrar quem pode mais. Os pais, no entanto, precisam saber dosar as regras na educação, e mostrar os limites sobre o que pode e o que não se pode fazer.

Em “Depois de Lúcia” (“Después de Lucía”), longa-metragem mexicano vencedor da mostra Un Certain Regard, durante o Festival de Cannes do ano passado, o espectador pega carona no banco de trás do carro que acabou de sair do conserto. Quem vai dirigindo é Roberto (Hernán Mendoza), que, mesmo sem ter “um dia de fúria”, larga o veículo no meio da rua, com a chave dentro, e vai a pé.

O mecânico que entrega o carro ao dono enumera todas as peças do carro que foram trocadas, arrumadas e limpas. Tem-se apenas uma pincelada do que pode ter acontecido. Mas o tal homem vai, com a filha Alejandra (Tessa Ia), para a estrada (com outro carro). Os dois se mudam, sem levar muitas lembranças do que ficou para trás.

Quando a menina começa a estudar na nova escola é que o espectador passa a entender quem são os personagens. Pai e filha saíram da cidade de Puerto Vallarta, localizada na costa oeste do México, banhado pelo Pacífico. Lá, a garota costumava ir à escola e surfar nas horas vagas. Enquanto o pai, chef de cozinha, conseguiu um novo emprego na capital do país e, portanto, os dois tiveram de se mudar.

Lúcia, do título, é a mãe de Ale, que possivelmente morreu durante um acidente de carro. Mas isso pouco é falado; é sutilmente citado, no meio de uma conversa. Enquanto o pai tenta aceitar o seu novo emprego e a superar a perda, a menina vai à escola, conhece novos colegas e aparentemente logo se enturma.

A questão é que, depois de um deslize, ela é rapidamente julgada e colocada de lado. Inventa uma desculpa ao pai para dizer que não tem aula e passa o dia debaixo das cobertas tentando entender o que fez. Mesmo contra a sua vontade, Ale volta para a escola e daí as consequências de seu ato passam a ser maiores.

A discussão começa a ser mais profunda quando se associa o deslize à mentira, à falta de limite e até mesmo à falta de cuidado, não necessariamente dos pais, mas também da escola que é, sim, responsável por seus alunos enquanto eles estiverem dentro das dependências da instituição ou até mesmo quando adolescentes são obrigados, pela escola, a fazerem viagem com finalidade de estudo. Ao mesmo tempo em que a escola tem a preocupação de fazer exame antidoping periodicamente nos alunos, ela ignora que os mesmos adolescentes praticam abusos e carregam garrafas de bebidas nas suas mochilas.

Ora, se algumas cenas nas quais a garota atura o “bullying” parecem inverossímeis (além da escola, mas também a jornada a nado, o dinheiro da passagem de volta etc.), a câmera de Michel Franco (em seu segundo longa-metragem) aponta para a posição na qual os alunos não têm educação, usam a força para tirarem proveito e abusam do consumo de drogas e álcool. Mesmo apresentando violência, Franco opta por não explicitar as cenas que demonstram a dor. Elas ficam implícitas e o espectador trata de imaginar. Perfeito.

Com atos típicos de adolescentes mimados e inconsequentes, “Depois de Lúcia” costura de forma angustiante as histórias, bem como o passado dos personagens, e mostra que um pai desesperado, depois de perder a esposa e possivelmente a filha, é capaz de tudo. Tudo mesmo. Mas daí já é outra discussão.

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