Memória Cinematográfica

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Hoje

Estreia Nacional 19 abril 2013

Os respingos da ditadura no Brasil continuam caindo e jogando luzes sobre o assunto que abalou país. O governo federal, que sempre escondeu as provas dos anos de chumbo, criou, durante o mandato de Dilma Rousseff, a Comissão da Verdade, a fim de vasculhar esses documentos.

O cinema, claro, se aproveita dessas histórias, no todo ou em parte. Não faz muito tempo que Cao Hamburger filmou “O Ano em que Seus Pais Saíram de Férias”, sobre o garoto que ficou sozinho depois que pai e mãe foram levados pelos militares. O cinema argentino também teve o seu momento e o mostrou recentemente em “Infância Clandestina”. No Chile, sobre o ditador Augusto Pinochet, Gael García Bernal interpreta um publicitário responsável pela campanha contra a ditadura, em “No’.

Desta vez, quem conta a história é a diretora Tata Amaral (“Antonia”). No longa-metragem “Hoje” ela faz o recorte de apenas uma personagem, Vera (Denise Fraga), ex-militante política que recebe indenização do governo brasileiro pelo desaparecimento do marido, vítima da repressão durante a ditadura militar.

O longa foca na provável culpa que ela sente em usar o dinheiro recebido para comprar o apartamento dos sonhos no centro de São Paulo (mais precisamente na avenida São Paulo, em frente à praça Dom José Gaspar).

O tal apartamento é o único cenário que o filme todo apresenta – além de uma sequência na praça. E Vera é praticamente a única personagem. Dentro do apartamento, no dia da mudança, se revezam os dois rapazes da empresa da mudança, a vizinha impertinente e o marido, que reaparece, mas ela o esconde.

Filmar sobre a ditadura brasileira é uma maneira que muitos diretores encontram de exorcizar os fantasmas que deixaram muitas marcas naquela época. Muitas famílias ainda carregam o desgosto de terem entes queridos sumidos e suas histórias pouco esclarecidas.

No caso da personagem Vera, foi apenas em 1998 que ela foi reconhecida como viúva e recebeu a indenização que merecia em decorrência do sumiço de seu marido. Por falar em data, há problemas, por exemplo, em direção de arte e roteiro, quando a personagem diz que vai procurar o encanador na internet e utiliza o telefone celular touchscreen – tecnologias posteriores ao ano em que se passa o longa. Mas isso é detalhe que não ofende o espectador, não tira dele o direito de assistir a um bom filme.

Como pouco contracena com os outros atores, Denise Fraga se mostra uma brilhante atriz dramática (a despeito de quem acredita que ela só consegue fazer comédias), com monólogos incríveis, que mexem com o espectador, fazendo-o acreditar que tudo o que ela recebeu é seu por direito.

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