Memória Cinematográfica

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Sem Evidências

Estreia GQ 23 julho 2014

Apenas uma pessoa diz, na abertura do longa-metragem “Sem Eviências” (“Devil’s Knot”), que sabe o que aconteceu com três crianças desaparecidas, em 1993. E é atrás deste depoimento que a polícia da pequena cidade de West Memphis, no estado do Arkansas (EUA), vai atrás.

Pam Hobbs (Reese Witherpoon, de “Legalmente Loira”) é garçonete na lanchonete da cidade e, antes de sair para mais um dia de trabalho, pede que o filho Steve, de oito anos, chegue antes das 16h30 em casa para que ela possa sair. Steve está orgulhoso com a bicicleta que acabou de ganhar do avô e vai dar um volta com seus amigos Christopher Byers e Michael Moore. Com as cenas construídas e com a veemência que a mãe pede para o filho voltar para casa, marcando horário e dizendo o motivo, é óbvio que ele não vai voltar.

Sem entender a razão, o espectador acompanha as três crianças entrando em uma floresta com suas bicicletas, chamada de Robin Hood. Nada mais é mostrado.

Pouco ou nada se sabe da vida daquela família, a não ser que a mãe vai trabalhar no restaurante e é o pai quem a leva, junto com a caçula, que aparece em duas cenas.

Por outro lado, vê-se Ron Lax (Colin Firth, de “O Discurso do Rei”) sozinho, em um leilão de obras de arte e depois em outro restaurante da cidade, comendo no balcão e conversando com outra garçonete. Nada se sabe sobre ele, por que ele está sozinho e se ele está flertando com a moça ou só sendo bem educado.

Na verdade, Lax tem seus motivos (sabe-se lá quais são eles…) para ajudar os três adolescentes Damien Echols, Jason Baldwin, e Jessie Misskelley Jr., acusados de matar as tais crianças. Ele é investigador e vai fazer o serviço de graça.

Os acusados são presos um mês depois do crime. A comunidade e a polícia local acreditam que as mortes foram trabalho de um culto satânico do qual os garotos são adeptos. A justificativa é principalmente porque eles gostam de heavy metal. Há, inclusive, uma passagem no filme que faz ligação entre Satanás e o rock pesado…

Dirigido por Atom Yeghoyan (“Verdade Nua”), cineasta egípcio criado no Canadá, o longa é inspirado em fatos reais e no livro de Mara Leveritt, mas conta apenas o que aconteceu em 1993 e 1994. O final da história fica por conta de texto exibido durante os créditos.

O diretor foca em suas estrelas, Reese e Firth, embora o personagem não tenha tanta importância no desenrolar da trama. Ela, que faz uma mãe que deveria estar desesperada com a perda do filho, precisa ser mais convincente em seus papéis dramáticos. Com o cabelo impecável, como de quem sai do salão de beleza, é incapaz de chorar quando os coleguinhas do filho vão abraçá-la.

Firth tem pouca importância e se mostra pouco à vontade no papel de um investigador que tenta provar à Justiça que a sentença dada está equivocada, mas é em vão.

Uma história, que é dita “sem evidências”, como sugere o nome de batismo no Brasil, poderia ter esperado um pouco mais para ganhar a tela grande e o mundo. Yeghoyan  demora para desenrolar a história e perde uma grande oportunidade de criar.

Na época do ocorrido, foram lançados documentários que registram a história e a falta de desfecho satisfatório. Por ser canadense, talvez o realizador não tenha se dado conta da repercussão que a tragédia teve na cidade, mas, ainda assim, aponta um possível culpado. Acredite se quiser.

Texto originalmente publicado na GQ.

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